Sobre A Genealogia da Moral

Uma análise preliminar de A Genealogia da Moral, uma polêmica: como o prólogo se relaciona com o pensamento geral do autor?

O prólogo contém as primeiras delimitações de Nietzsche na direção de seu projeto crítico-filosófico sobre a moral. Ele apresenta nesta primeira parte aquilo com que já trabalhou em outras obras (ver, por exemplo, Além do Bem e do Mal), assuntos caros ao tema a que se propõe tratar no presente trabalho, ou seja, a moral, como vingança, justiça, ascetismo e Deus. Apresenta também dois conceitos-chave de seu pensamento: as definições de moral e de genealogia, sendo ambas o fundamento e o ponto de chegada de seu estudo com início na história e aplicado aos assuntos das outras dissertações, a saber: "bom e mau", "bom e ruim"; "culpa", "ma consciência" e coisas afins e o que significam ideais ascéticos. Seu projeto para verificar a gênese da moral a partir do vislumbre das suas condições de possibilidade dentro de um trajeto histórico confere à presente obra mais um passo no desvelamento dos costumes e deveres da sociedade do século XIX, que inclinam e induzem irrefletidamente certas disposições do espírito com o pretexto de terem "valores em si". Portanto, em relação ao pensamento de Nietzsche, a genealogia da moral representa uma soma ao corpo de assuntos analisados genealogicamente na busca pelo valor da moral e crítica a sua inquestionabilidade.
Quanto a uma conversa entre as dissertações e o prólogo, pode-se dizer que este serve, como sugere o nome, de introdução ao modo como o filósofo trabalha. Para tal, além de justificar a análise de maneira geral a partir de uma espécie de "escrúpulo a priori" e de uma necessidade de colocar uma crítica à moralidade, Nietzsche conta como e por que os assuntos de "bem e mal" o chamaram atenção desde o início da juventude. Ele também conta o passo-a-passo de sua busca por respostas às questões do bem e do mal, as quais eventualmente pararam de se referir àquilo que está "por trás do mundo". Em outras palavras, o filósofo prenuncia a exclusão da metafísica como fundamento da moral em uma ilustração concisa sobre o que se deve esperar das vindouras dissertações, seu objetivo com elas e a pessoa que originou tal cadeia de pensamento, enquanto toma "a vida" como novo e devido fundamento em um projeto com vistas a uma nova e devida moral, a uma transvaloração de todos os valores.

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